Entrevista a Marina Rocha Ribeiro – Lux Woman

A revista Lux Woman entrevistou, nesta edição de Setembro 2014, a jornalista e escritora  Marina Rocha Ribeiro a respeito da sua primeira obra “Contidianos- Vidas como a nossa”- Chiado Editora. A autora fala, entre outros temas, sobre o  processo criativo de Contidianos e sobre outras facetas suas.

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Adquirir a obra aqui Livraria Bertrand  ou aqui Chiado Editora

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Há quanto tempo começou a escrever este livro? Pensava escrevê-lo há muito?

Nunca pensei muito seriamente em publicar os textos que escrevo. Escrevo-os há muito – no formato de short stories, escrevo-os há já cerca de 15, 20 anos – quase sempre como exercícios de escrita, e sempre por prazer, já que encontro na escrita o refúgio perfeito para a minha natureza silenciosa e reservada. A ideia de os enviar para uma editora – a Chiado Editora – surgiu após um episódio bastante comezinho: um assalto à minha casa, de onde levaram uma soma avultada de textos, inadvertidamente, imagino, guardados em pens e computadores roubados. Pus-me a imaginar como me sentiria se, um dia, visse os meus textos, as minhas palavras, impressas, publicadas por um estranho. Pus mãos à obra. Não apenas escrevi um conto sobre esse tema como reuni um conjunto de contos a que chamei desde logo “Contidianos – Vidas como as nossas” e enviei-os. Uma semana depois, recebia a notícia: “Sim, vamos publicar o seu livro.”

 

É o seu primeiro livro e optou pelos contos. Porquê este género literário?

Não sei bem explicar o porquê deste género. Sou fã de contos, é verdade, mas não sei se será essa a razão. Talvez a minha falta de tempo, e dos leitores em geral, absorvidos cada vez mais em quotidianos ultra preenchidos; talvez por deformação profissional, já que o texto jornalístico se pretende curto e conciso; talvez por ser impaciente… Estou sempre a escrever pequenas histórias pelo que, caso volte a encontrar um fio condutor num outro conjunto de textos, talvez, um dia possa editar nova coletânea de contos. Estou a preparar sítios (www.contidianos.pt e www.marinarocharibeiro.pt) e uma página no Facebook para divulgação do livro onde penso colocar alguns textos não publicados, para dar a conhecer um pouco daquilo que se pode encontrar em “Contidianos”. Um romance requer outro tipo de fôlego e disponibilidade, mas nunca se sabe.

 

E poesia? Escreve?

Escrevo, há já alguns anos, histórias infantis, sob o pseudónimo de Mar da Luz, algumas delas publicadas no Especial Criança da Lux, que são em verso. Rimas anárquicas que empresto a fábulas de “encontar”, mas não lhes posso chamar poesia. É um género demasiado nobre a que os meus versos jamais poderiam aspirar.

 

Onde foi buscar a inspiração para as histórias que conta?

Pequenos pensamentos, imagens, relatos reais ou imaginários, sonhos, rostos, notícias de jornal… acabam por me suscitar um começo de narrativa, um enredo ou um qualquer final que me sinto compelida a pôr ‘no papel’. Por vezes, apenas uma palavra ou sequência delas começam a repetir-se, dias a fio, na minha cabeça e entendo que são o começo de uma possível história. Mas mesmo quando partem de um facto ou dado real, são sempre ficcionados e nunca o mero relato da ‘coisa’. São, todos eles, puras invenções com as quais me divirto.

 

O que poderemos tirar de “Contidianos”? Refletir? Rir? Revermo-nos em algumas personagens ou situações?

“Contidianos” são histórias – que eu situaria em terreno urbano, ou mesmo suburbano – sobre o quotidiano de gente comum em situações extraordinárias. Talvez por isso tenha desde o início imaginado uma capa com graffiti, pois também por eles passamos sem reparar, muito menos sem lhes atribuir o estatuto de arte. São histórias absolutamente despretensiosas, relatos de vida de gente simples, banal até eu diria. Gente de todos os dias com as quais nos cruzamos na rua, no metro, no trabalho. Gente que podemos estranhar apenas pela forma como se vestem, pelo local onde vivem, pela forma como ‘lemos’ aquilo que devem ser as suas vidas. Porém, são apenas pessoas como nós, habitadas pelas mesmas vozes, pela mesma fome de felicidade, pelas mesmas desilusões e desenganos. “Contidianos” vai encontrar essas pessoas em momentos de rutura, em pontos críticos em que tudo muda. Situações limite – logo, libertadoras, de certa forma – a partir das quais se altera a forma como vemos a vida, a forma como a vivemos e a forma como somos e como nos olhamos. São momentos de divisão que estabelecem um antes e um depois. São ressaltos numa reta imaginária que marcam o fim: da felicidade tal como a compreendíamos, do amor e até da vida em si mesma. “Contidianos” é a fina e ténue linha que separa a sanidade mental da loucura, o cidadão comum do criminoso, a felicidade da tristeza, a vida da morte. Nesse sentido, acho que todos nos poderemos rever numa ou outra situação e, dada a ironia que me parece permanente, também há situações caricatas que podem gerar sorrisos, sim, acho que sim.

 

 

 

 

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